domingo, 20 de dezembro de 2009

É difícil achar fã de Sérgio Leone solteiro

Era um vez na América, no Oeste. Era uma vez na Internet. Houve uma vez no útero. Quase nada em comum. Sérgio Leone poderia ser a única ligação, mas não era. Carinho, talvez. Admiração, por parte dela, certamente. Ele tinha o dom de aflorar seu lado negro da força sem a culpa cristã que os anos de colégio de envangélico tatuaram em seus atos.
Anos circulares os levavam ao mesmo lugar, um mesmo assunto, nunca repetido em seus diálogos. Diálogos nunca repetitivos, ainda que com o mesmo assunto. Deveriam guardar o que se disseram durante esses dez anos. Deveriam guardar o que dizem em papéis avulsos e jogá-los pelas ruas das cidades para que alguém pudesse ler o que um dia foi dito. Nunca se preocuparam em fazer isso. Falta de valor cinematográfico, na visão dele, provavelmente. Falta de valor literário, na dela.
 - Tudo bem?
- Não. Tô em crise. Acabei de terminar um relacionamento. Durou 20 dias.
- Bastante. A julgar que pessoas são insuportáveis.
- Não zoa. Eu gostava dele. Ele é fã de Leone. É difícil achar fã de Leone solteiro.
Ele dá uma gargalhada, faz com a cabeça que concorda e gosta da observação.
- Não me faça rir. O assunto é sério e você me pediu isso.
- É, eu sei. E você, como está?
- Em crise também. Perdi mais uma vez em meu nome e ganhei mais uma vez no nome de outra pessoa.
- Já pensou em adotar um pseudônimo?
- Não zoa. É importante pra mim. Bruce Wayne? Não, o Batman escolheu antes.
Ela ri. Silêncio. Ele brinca com seu suco de laranja. Ela toma mais um gole de vodka pura.
- Já teve a sensação de que os anos passam e você continua no mesmo lugar?
- Sempre. Em 2005, também perdi em meu nome, ganhei em paralelo com nome de outra pessoa. e 2006 também. E agora também, mas agora, sem namorada.
- Eu notei que está sem namorada. Quando namora, some.
- Pessoas são previsíveis.
- Acha que se as coisas começarem a dar certo a gente se reencontra?
- Não. Geralmente as pessoas se unem por desgostos em comum.
Desgostos em comum. O grande elo dos relacionamentos humanos. No caso deles, Sérgio Leone e a promessa de que um dia ela faria uma ponta nalgum filme dele. Não seria dona de uma taberna medieval para alliens boêmios, no espaço, como sempre sonhou, mas uma dona de bar destruído por super-heróis. Iria demorar. Muitos muitos anos. Seria bom, ele certamente se transformaria, até lá, em protagonista de um de seus livros, que poderia se chamar "Era uma vez um fã de Leone solteiro".

domingo, 13 de dezembro de 2009

Porque a gente às vezes se repete

Meus Medos

Nem Deus ou o Diabo
amor, próximo ou paixão
nada disso temo,
nada disso tenho:
os meus medos estão
nas coisas do coração.

O pulsar, bombear
colesterol, o bom
o cigarro, do mal
a gordura, o peso
deixar de ser obeso
Adrenalina, endorfina
queria mesmo um pico de heroína
na hipertensão arterial
levada em Raio X de Tórax
num eco, eletro que diz:
Cardiopatia - Apatia!
Isquemia  - função fática
faço conta na medicina matemática,
pois os meus medos estão
nas coisas do coração.

O mundo moderno
que se destrói por erros do antigo
coração é grande e cabe todos os mundos,
mas as leis naturais a todo momento
repetem : é a vida!
E eu pergunto: Isso é vida?
Comida sem gosto - saudável
Vida sem desgosto- impossível
são as leis naturais - nada de emoção
E os meus medos estão
nas coisas do coração.

quinta-feira, 10 de dezembro de 2009

I'd still like to see you sometime

Em qual das muitas estrelas das muitas galáxias ele estará agora? Talvez as mesmas que brilhavam em seus olhos naquela tarde de céu estrelado. Quem sabe as que saíam de seu peito e brilhavam a rua enquanto planetas dançavam a seu redor ignorando a fila de carros que se formava. Fizeram de suas buzinas infernais, a mais bela canção silenciosa. A dança planetária o escondeu para sempre.  Procuro e não acho. Viajo à sua galáxia e não o encontro. Ele não quis me ver naquela noite de sol azul. Encontro marcado. Desencontro consumado. Fiquei esperando na outra ponta do céu.
Tantos anos depois, nada sobrou, a não ser as estrelas que recolhi após sua passagem e colei no teto do meu quarto.