Era um vez na América, no Oeste. Era uma vez na Internet. Houve uma vez no útero. Quase nada em comum. Sérgio Leone poderia ser a única ligação, mas não era. Carinho, talvez. Admiração, por parte dela, certamente. Ele tinha o dom de aflorar seu lado negro da força sem a culpa cristã que os anos de colégio de envangélico tatuaram em seus atos.
Anos circulares os levavam ao mesmo lugar, um mesmo assunto, nunca repetido em seus diálogos. Diálogos nunca repetitivos, ainda que com o mesmo assunto. Deveriam guardar o que se disseram durante esses dez anos. Deveriam guardar o que dizem em papéis avulsos e jogá-los pelas ruas das cidades para que alguém pudesse ler o que um dia foi dito. Nunca se preocuparam em fazer isso. Falta de valor cinematográfico, na visão dele, provavelmente. Falta de valor literário, na dela.
- Tudo bem?
- Não. Tô em crise. Acabei de terminar um relacionamento. Durou 20 dias.
- Bastante. A julgar que pessoas são insuportáveis.
- Não zoa. Eu gostava dele. Ele é fã de Leone. É difícil achar fã de Leone solteiro.
Ele dá uma gargalhada, faz com a cabeça que concorda e gosta da observação.
- Não me faça rir. O assunto é sério e você me pediu isso.
- É, eu sei. E você, como está?
- Em crise também. Perdi mais uma vez em meu nome e ganhei mais uma vez no nome de outra pessoa.
- Já pensou em adotar um pseudônimo?
- Não zoa. É importante pra mim. Bruce Wayne? Não, o Batman escolheu antes.
Ela ri. Silêncio. Ele brinca com seu suco de laranja. Ela toma mais um gole de vodka pura.
- Já teve a sensação de que os anos passam e você continua no mesmo lugar?
- Sempre. Em 2005, também perdi em meu nome, ganhei em paralelo com nome de outra pessoa. e 2006 também. E agora também, mas agora, sem namorada.
- Eu notei que está sem namorada. Quando namora, some.
- Pessoas são previsíveis.
- Acha que se as coisas começarem a dar certo a gente se reencontra?
- Não. Geralmente as pessoas se unem por desgostos em comum.
Desgostos em comum. O grande elo dos relacionamentos humanos. No caso deles, Sérgio Leone e a promessa de que um dia ela faria uma ponta nalgum filme dele. Não seria dona de uma taberna medieval para alliens boêmios, no espaço, como sempre sonhou, mas uma dona de bar destruído por super-heróis. Iria demorar. Muitos muitos anos. Seria bom, ele certamente se transformaria, até lá, em protagonista de um de seus livros, que poderia se chamar "Era uma vez um fã de Leone solteiro".
Um comentário:
SÃO SÓ GAROTOS
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