quinta-feira, 23 de dezembro de 2010

Natal na Sarjetta

Ela riu. Um riso gostoso de quem não tem ontem para lembrar, nem amanhã a pensar. Ela sempre ri de si mesma ainda que lágrimas formem um oceano no olhar.
Ficaria ali, etermanemte, olhando aquele riso. Gato de Alice. Seu corpo desaparecia, somente o sorriso num quadro sem fundo.
Quero aquele riso para mim. Quero o riso de quem o presente é o segundo, não o hoje.
O riso de quem não precisa nada além do momento para rir. Sem paraísos artificiais, somente o desejo do segundo que escapa. A consciência de que o ontem é só uma lembrança e o amanhã uma aspiração.
Riso de quem sorve o segundo na certeza de que o instante é um divisor de nadas e totalmente risível.
Ela ri. Ela sempre ri com lágrimas formando um oceano no olhar.

segunda-feira, 5 de julho de 2010

Ritornelo

a F.K
nem alegre nem triste nem poeta
nem Caetano
fragmento de qualquer coisa
contido em coisa alguma
nem alegre nem triste nem poeta
nem Cecília Ana ou Silvia
fogo que arde na cinza mal apagada
jogada no cinzeiro
do caos de abstrações
e desesperos silenciosos
Busco a canção de ninar que me leva pra casa
mas a sonoridade do meu fio de Ariadne
foi cortado ao meio.

quinta-feira, 13 de maio de 2010

Sábado tem lançamento de livro

Meu amigo Márcio Vidal Marinho vai lançar seu livro, Receitas para Amar no século XXI,  na loja do selo do Povo na galeria do rock dia 15 de maio.

Quem tiver tempo, aparece lá. Mais informações no blog do Ferrez: http://ferrez.blogspot.com/


Ah, a ilustração da capa fui eu que fiz. É mais ou menos essa aí, com uma pequena diferença...

domingo, 2 de maio de 2010

Engarrafamento

Todos em fila
diante de um sinal verde
que não lhes permitia a passagem.

De volta às verdadeiras origens

Mais velha e gordoosha :P

Santos e Santo André

Eu havia escrito um post desabafo enorme, mas apaguei. Melhor assistir ao jogo.

Fiquem com o Flyer de Eléia Leu, uma roda de leitura que aconte na Biblioteca Alceu Amoroso Lima em edições quinzenais às terças.
A próxima será dia 11 de Maio.

segunda-feira, 12 de abril de 2010

A Dilma também tuíta, mãe!

Dilma Rousseff agora também tem twitter. Quase todo mundo tem Twitter. Minha mãe não tem.Ainda bem!
Não sei se a Marina tem, mas o Serra sim.

Ninguém pode explicar a vida num samba curto, já disse o grande Paulinho da Viola, mas 140 caracteres podem ser suficientes para fazer o diferencial na campanha presidencial. Afinal, na maioria das vezes os longos discursos dos candidatos não explicam nem as suas propostas de governo...
..

domingo, 11 de abril de 2010

Pra não dizer que não falei de flores...

Só pra lembrar que eu tenho brinquedo de escrever...



Desenho para capa de livro NÃO APROVADO. MAS EU COORTI!

segunda-feira, 18 de janeiro de 2010

Na Sarjetta EU posso até sofrer aos 33

Pesou. Os momentos que antecederam meia noite foram de tempestade. Cheguei à igreja do Calvário com medo de passar os primeiros minutos após a meia-noite diante daquele enorme portão verde. Dei sorte. O guarda-chuva não me guardou da chuva, mas o atraso do acaso me deu sorte e eu passeio os primeiros minutos dentro do lugar onde passei a maior parte dos últimos dez anos: o ônibus. Olhava pela janela e sentia o peso dos pingos que se desfaziam no chão como tantos dos meus sonhos, que já nem me lembro mais.
Pesou. Os 33 pesaram. A via crucis da volta pra casa na primeira meia hora dos 33. A fissura que fez de Fitzgerald um prato rachado que não se serve em jantares oficiais, mas que se pega de madrugada para comer biscoitos. Queria mesmo o jovem empolgado com a revolução jazzista de 1922.
Pesou, mas suave é a noite e enquanto "The Weight" gira na vitrola, eu como os biscoitos.

sexta-feira, 15 de janeiro de 2010

Não foi dessa vez

É, não foi dessa vez e acho que dessa vez eu desisto de vez.

terça-feira, 5 de janeiro de 2010

13 de Maio

No começo dos anos 90
na barraquinha de fitas k7
Don´t be cruel tocava 
e minha vida tão água
ganhava uma felicidade 
de suco artificial instantâneo
a vida tão água ganhava cores
sempre com o mesmo gosto
dos imperdoáveis atrasos
da melancolia adolescente
que pedia ao mundo 
Don´t be cruel

No início dos anos 90
os hormonios em rebelião
na barraquinha de fitas k7
do largo 13 de maio 
Elvis era a minha abolição

domingo, 20 de dezembro de 2009

É difícil achar fã de Sérgio Leone solteiro

Era um vez na América, no Oeste. Era uma vez na Internet. Houve uma vez no útero. Quase nada em comum. Sérgio Leone poderia ser a única ligação, mas não era. Carinho, talvez. Admiração, por parte dela, certamente. Ele tinha o dom de aflorar seu lado negro da força sem a culpa cristã que os anos de colégio de envangélico tatuaram em seus atos.
Anos circulares os levavam ao mesmo lugar, um mesmo assunto, nunca repetido em seus diálogos. Diálogos nunca repetitivos, ainda que com o mesmo assunto. Deveriam guardar o que se disseram durante esses dez anos. Deveriam guardar o que dizem em papéis avulsos e jogá-los pelas ruas das cidades para que alguém pudesse ler o que um dia foi dito. Nunca se preocuparam em fazer isso. Falta de valor cinematográfico, na visão dele, provavelmente. Falta de valor literário, na dela.
 - Tudo bem?
- Não. Tô em crise. Acabei de terminar um relacionamento. Durou 20 dias.
- Bastante. A julgar que pessoas são insuportáveis.
- Não zoa. Eu gostava dele. Ele é fã de Leone. É difícil achar fã de Leone solteiro.
Ele dá uma gargalhada, faz com a cabeça que concorda e gosta da observação.
- Não me faça rir. O assunto é sério e você me pediu isso.
- É, eu sei. E você, como está?
- Em crise também. Perdi mais uma vez em meu nome e ganhei mais uma vez no nome de outra pessoa.
- Já pensou em adotar um pseudônimo?
- Não zoa. É importante pra mim. Bruce Wayne? Não, o Batman escolheu antes.
Ela ri. Silêncio. Ele brinca com seu suco de laranja. Ela toma mais um gole de vodka pura.
- Já teve a sensação de que os anos passam e você continua no mesmo lugar?
- Sempre. Em 2005, também perdi em meu nome, ganhei em paralelo com nome de outra pessoa. e 2006 também. E agora também, mas agora, sem namorada.
- Eu notei que está sem namorada. Quando namora, some.
- Pessoas são previsíveis.
- Acha que se as coisas começarem a dar certo a gente se reencontra?
- Não. Geralmente as pessoas se unem por desgostos em comum.
Desgostos em comum. O grande elo dos relacionamentos humanos. No caso deles, Sérgio Leone e a promessa de que um dia ela faria uma ponta nalgum filme dele. Não seria dona de uma taberna medieval para alliens boêmios, no espaço, como sempre sonhou, mas uma dona de bar destruído por super-heróis. Iria demorar. Muitos muitos anos. Seria bom, ele certamente se transformaria, até lá, em protagonista de um de seus livros, que poderia se chamar "Era uma vez um fã de Leone solteiro".

domingo, 13 de dezembro de 2009

Porque a gente às vezes se repete

Meus Medos

Nem Deus ou o Diabo
amor, próximo ou paixão
nada disso temo,
nada disso tenho:
os meus medos estão
nas coisas do coração.

O pulsar, bombear
colesterol, o bom
o cigarro, do mal
a gordura, o peso
deixar de ser obeso
Adrenalina, endorfina
queria mesmo um pico de heroína
na hipertensão arterial
levada em Raio X de Tórax
num eco, eletro que diz:
Cardiopatia - Apatia!
Isquemia  - função fática
faço conta na medicina matemática,
pois os meus medos estão
nas coisas do coração.

O mundo moderno
que se destrói por erros do antigo
coração é grande e cabe todos os mundos,
mas as leis naturais a todo momento
repetem : é a vida!
E eu pergunto: Isso é vida?
Comida sem gosto - saudável
Vida sem desgosto- impossível
são as leis naturais - nada de emoção
E os meus medos estão
nas coisas do coração.

quinta-feira, 10 de dezembro de 2009

I'd still like to see you sometime

Em qual das muitas estrelas das muitas galáxias ele estará agora? Talvez as mesmas que brilhavam em seus olhos naquela tarde de céu estrelado. Quem sabe as que saíam de seu peito e brilhavam a rua enquanto planetas dançavam a seu redor ignorando a fila de carros que se formava. Fizeram de suas buzinas infernais, a mais bela canção silenciosa. A dança planetária o escondeu para sempre.  Procuro e não acho. Viajo à sua galáxia e não o encontro. Ele não quis me ver naquela noite de sol azul. Encontro marcado. Desencontro consumado. Fiquei esperando na outra ponta do céu.
Tantos anos depois, nada sobrou, a não ser as estrelas que recolhi após sua passagem e colei no teto do meu quarto.